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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Nossa Vida de A a Z



O alfabeto de nossas vidas traduz toda essa passagem. Caminhada contínua. Jornada sem via. Sabão sem efeito, pois presa ao peito, a sujeira irradia.



A  Amanhecer… inicia-se nova vida após um ato de amor, após uma gestação de dor, após esperanças, após a troca de calor.


B- Bom dia…a recém chegada vida leva sua primeira palmada. Acolhida nada agradável. Porém é apenas o início de toda uma caminhada de alegrias, dores, amores e novamente dores.






C- Crescimento… A nova alma se apossa de seu corpo. A vida que agora já não é recém chegada aprende seus primeiros movimentos. Anda, cai, chora, vai… Fase inicial, mostra de potencial.





D- Dores… aprende-se na carne o que é certo ou errado. Tomba, fura, corta, costura. As cicatrizes tendem a piorar no futuro.





E- Esperanças… Agora já se tem 7 anos. Uma nova fase, uma nova jornada, centenas de novas vidas a cruzar sua caminhada. Fase colegial, onde as verdades aparecerão sem aviso prévio. Onde o concreto de suas idéias hão de mostrar-se. Onde a criança inocente irá sujar-se.





F- Férias… Esperar, sempre esperar.





G- Ganância… Aprenderás a desejar o que não tens. Tentará obter o que convêm. Mostrará sua verídica atitude, tentará camuflar-se com virtudes…





H- Hereditariedade… Herdarás talvez beleza, talvez feiura. Terás total certeza em sua bula. Verás em seus entes seu provável futuro. Uma calvície aparente, uma agradável escultura, uma mente carente, uma brilhante criatura.







I- Inocência… nesta altura já a terás perdido. Nossa única riqueza fornecida sem esforços. Dom recebido que após ter nascido, não muito longe, no caminho pela vida, há de ser perdido. Riqueza maior, perda pior.







J- Juventude… Eterna descoberta. Início de uma fase complexa. A mente atormenta, o corpo arrebenta, a alma não agüenta, a vida lamenta. O sopro aumenta, a dor se afugenta, e sai, e vai, e volta. Contrastes de idéias e atitudes. Renovação e distorção de caráter. Juventude.





K- Kilograma… Preocupação mediante aceitação. Fase feminina, corpo sem doutrina. Estereótipos a serem aceitos. Modelos a serem refeitos. Perca de tempo!





L- Liberdade… Pode-se tudo, quer-se tudo, tenta-se tudo. Após uma dezena e alguns anos, a humanidade acredita estar preparada. Não se ouve a quem deve, não se segue a quem pede. Sabe-se tudo, e o nada está muito perto. Não precisa de ajuda, julga-se muito esperto. Mais tomba. Fere-se. E a quem julgava estar errado pede auxílio. E assim segue o caminho. E assim segue o martírio…





M- Moderação… Agora chega-se as duas dezenas completas. Moderação?! Não… Não de emoção, não de solidão, não de angústia, não de privação. De que então? – Moderação de idéias, pois o pensar nos levará mais longe; moderação na visão, pois o enxergar provocará contemplação; moderação de sentimentos, pois o sofrer atormentará o coração. Lindo se funcionasse!





N- Novidades… Agora de fato se pode o que quer. Agora o ato concretiza-se, agora o jato mobiliza-se. Jato de vida, que a vida dá. Dar a partida e voltar atrás. A esta altura já se está cansado de haver cometido tais atitudes, porém agora a revoada é mais profunda, o sentimento nos circunda, a solidão é a vagabunda que nos espera nas esquinas. Pessoas, gestos, atos, fatos, dores, prazeres, flores, alqueires. O que não era novidade passa a ser. O que provocava dor, provoca prazer. O que causava temor, alivia ao se ver. Novidades culturais, sociais, sexuais, mortais…





O- Ostentação… Não sendo maioria, o erro é mais tênue. Aos que pouco nada tem, uma amostra , um refém. Deixar de ser o que se é, tentar ter o que não tem. Mediocridade. Falsidade. Mas existe, é verdade… Dotados de individualidade, não se pode fugir da verdade. E faz parte, e faz parte…





P- Preconceito… Caricatura da humanidade. Não enxergando nossos próprios defeitos, ou pior, tendo conhecimento, recrimina-se o que não julga-se perfeito. O imperfeito perfeito é, pois na podridão de um mundo deturpado, o que está certo, por vezes diz-se errado. A Antonomásia toma o lugar do nome, a sociedade ignora, pessoas morrem de fome. Hipérboles ao que não se deve dar valor, litotes ao que nos causaria honor. Preocupação com o irrelevante. Descaso com o preocupante. Preconceito racial, facial, social. Causa de dor, angústia, clamor. Importante fase, pois está presente em todas as etapas, a partir do momento em que inicia-se o sopro do saber… triste, mais o que fazer?







Q- Quiro… As mãos… tradução da jornada. Cercando-se as três dezenas, ela mostra a caminhada. Algumas macias, mostram a fase sadia, a regalia, a calmaria aparente, o privilégio contente. Outras “impuras”, sem o odor das Honduras, nos guiam a defeitos, nos mostram preceitos de uma alma lutadora. Alguém que se esforça, que tenta crescer. Alguém que sem sorte, que vindo da morte, nasceu sem um berço e fez seu por onde. A mão de batalha, aquela que racha, aquela que luta, aquela que nunca fugiu da labuta. Aos esotéricos, o ponto de partida. Nela a vida é lida, os caminhos são traçados, marcados, desvendados e revelados. Quiro, nelas traduzimos a aparente caminhada.





R- Revelação… Revelar-se o que se é. Fuga da cronologia. Não se sabe até se ter. Não se tem até saber. Redundância, camuflagem. Dores por ser, alívio ao esconder. Cortes com o esconder, curativos ao deixar transparecer. Difícil caminhada, aos que tentam duplamente, em um corpo único, carente, o caminho seguir. Revelar-se é deixar fluir. Revelar-se e tentar partir. Fuga da cronologia, pois a todo tempo tenta-se…





S- Solidão… Não há vida sem ela. Só há ela com vida. Ela existe na morte, mas quem sente é quem fica. Sentimento revoltoso, que após anos de gozo, descobre-se que se tem. Aparece de mansinho, castiga de fininho e quando menos se espera… Dilacera. A partir do momento em que temos conhecimento da alegria de estar ao lado de uma outra alma, ela manifesta-se. Aproveita-se das situações e com seus dentes de leões nos fere. Corta-nos a jugular. Deixa-nos a sangrar. A cura faz-se por si só, mas a dor permanece naquele que deveria só pulsar.





T- Tesão… Pela vida, pelo amor, pela alegria e pela dor. O grande T, o T maior, a alegria de saber que se está vivo. O prazer de dividir, a paixão que é sentir. O sexual, o amor; a moral, o rancor; o normal, o fervor; o anormal, o desamor. Tesão de sentir-se com tesão. De ter vida, de ter saída, de soltar a voz e gritar, e chorar e cantar e berrar, e amar… e nascer… e crescer… e morrer… e voltar.





U- Utopia… Acredita-se numa comunhão. O fato que dilacera a solidão. Aparente ilusão. Casar-se, ter filhos, amar-se com brilhos. Normal. Convencional. Racional. Social. Aceitável… Mas não somente das antíteses humanas está feita a sociedade. A parcela marginalizada não tem direito a tais utopias sociais. Podem se amar, desde que às escondidas. Constituem lar, sem a aceitação e direitos de família. Jamais irão procriar, pois a natureza bela em sua concepção não previu tal interrupção. Não há a quem culpar. Aceitar? Utopia… na sexualidade adversa não pode existir.





V- Vitória… aqui o caminho tende a nova direção. O alfabeto da vida está por tornar-se morte. A este ponto viveu-se muito, sofreu-se muito, ardeu-se de prazeres, desprazeres, amores e desamores, bem estar e dores. A idade já não ajuda. Hora de compartilhar das aquisições com os legados que deixaremos. Olhar para trás, sorrir, chorar, lembrar… talvez não seja a hora, mais agora a preparação já se faz mais sutilmente. Ele virá. E nos levará. E então, a conheceremos. O que perderemos? A vida. Mas esta já foi vivida. E a vitória de ter constituído novas e férteis perpetuará a tragédia.





W- Whisky… Tomar e aguardar. Embriagar. Queimar a garganta. Vomitar vida. Poça…





X- Xeque-mate… O normal parte sem sal. O anormal, junta-se a lesma de sua mentira, e com o sal da hipocrisia derrete. A preparação não deve ser dolorosa. A revelação pode ser tortuosa, mais é necessária. Um fim hilário… Alegria, fim do calvário.





Y- Yankee… Na pós vida, na re-morte, a juventude. Caminho traçado sem interrupção do destino. Toda uma trajetória retilínea. Um começo, um meio e um fim. Uma velhice que se vai, uma infância que vem. Uma juventude que cai, uma morte que convêm. Sem medos, sem dor. Seria ótimo se esta ilusão assim não a fosse.





Z- Zzzzzz… Agora é dormir. Do outro lado nada posso dizer. Agora é sentir. Agora e deixar-se partir. E torcer para não ter que acordar…